UM ARSENAL QUE NÃO QUER GUERRA

Por 2min – Reserva
4 de março de 2020

Nos anos 60, um casal de jovens italianos decidiu dedicar a vida a combater a fome no mundo. Ernesto e Maria Olivero ocuparam o antigo local onde funcionou, por séculos, um arsenal militar na cidade de Turim. Depois da Segunda Guerra, o imóvel estava abandonado. Outros jovens abraçaram a ideia e restauraram o prédio. Lá, criaram o Arsenal da Paz.

Em 1996, a iniciativa atravessou o oceano. E mais um prédio histórico, desta vez em São Paulo, passou a abrigar o Arsenal da Esperança, que atende a 1.200 pessoas em situação de rua, fornecendo comida, alojamento e cursos profissionalizantes. O local escolhido foi a antiga Hospedaria do Imigrante, no bairro do Brás, região central da cidade. Nos séculos 19 e 20, passaram por lá centenas de milhares de estrangeiros que chegavam a São Paulo e lá ficavam em quarentena.

– O propósito do Arsenal é tentar fazer com quem chega se sentindo excluído possa se reinserir na sociedade da melhor forma possível. Para que isso aconteça, muitas coisas são necessárias. Uma delas, fundamental, é a alimentação. Normalmente quem procura uma casa como esta procura um lugar para se alimentar, além de dormir e tomar banho. Mas a alimentação faz com que a pessoa se sinta não só mais forte, mas também mais segura. O alimento não é só sobreviver, é receber a esperança, através daquele alimento, de que alguém está cuidando de mim, quer que eu me recupere e reconstrua minha vida – explica o padre Simone, missionário italiano que se dedica ao Arsenal.

O Arsenal da Esperança é um dos beneficiários do Banco de Alimentos (OBA), ONG apoiada pelo programa 1p5p, da Reserva. A OBA recolhe doações de supermercados e as repassa a uma série de instituições cadastradas. A verba disponibilizada pela Reserva ajuda a manter o serviço em funcionamento.

– Aqui realizamos cursos de panificação, confeitaria e ajudante de cozinha. Quem passa por esses cursos pode se candidatar à reinserção, onde temos 3 vagas. Eles são avaliados e recebem por isso. Somos 32 pessoas na cozinha, algumas delas egressas desses cursos – diz Amanda Alves, nutricionista do Arsenal.

Adolfo Menezes Neto, dependente químico, é natural de Uberlândia, e por lá passou por algumas clínicas de reabilitação nos últimos oito anos. Ao sair da última – onde ficou por 11 meses –, ouviu falar do Arsenal, e decidiu mudar-se para São Paulo.

– Não vejo o Arsenal como um albergue, mas como um lugar que me fornece todas as ferramentas na minha busca por sobriedade e pela reintegração à sociedade – diz. – Minha adicção não permitiu que eu progredisse, meu currículo é péssimo. Aqui já fiz curso de padeiro e confeiteiro. Meu currículo já está melhorando. Isso tudo o Arsenal me proporcionou. Agora tenho a esperança de voltar de novo. A cada dia meus sonhos ressuscitam. Estou me sentindo com 15 anos, como um adolescente. Estou com fome de viver de novo, com expectativa de reconstruir minha vida.

Para o padre Simone, o esforço de quem se desconectou da sociedade para voltar à normalidade da convivência é algo admirável.

– Para muitos, tirar um documento novo já é um esforço gigantesco. Mas sendo alimentado, cuidado, respeitado, tem coragem para encarar – diz. – Quando uma pessoa procura pelo Arsenal, procura pelo básico. Porque está numa situação em que nem o que deveria ser garantido para todos tem mais. Com o tempo, recebendo comida digna, possibilidade de descansar, de se cuidar, ela novamente desperta para a vida. Pensa em construir um projeto de vida, ir atrás de um sonho, resgatar um laço familiar que está perdido, enfim, se reinserir na forma mais ampla.

 

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